Jogo cênico, recreação

"Théâtre pour les enfants, théâtre des enfants. Ce qui se passe dans une salle de répétition est semblable à ce qui se passe dans la cour de récréation." Antoine Vitez 
("Teatro para as crianças, teatro das crianças. O que acontece dentro de uma sala de ensaio é semelhante aquilo que acontece no pátio de recreação". trad. minha)



Os processos de criação artística estão muito próximo aos territórios de descobertas e curiosidades que é o espaço de recreação infatil. Re-creacão no sentido de "recriar" o mundo. Os jogos teatrais e de cena são comparáveis aos jogos infantis, transmitidos oralmente ou inventados instantaneamente pela criança. A analogia se dá nos processos que permitem a imaginação de se renovar constantemente.

O intérprete das artes cências é um jogador (1). Ele articula, organiza, transfigura elementos que se apresentam no instante presente da cena. O intérprete recria parâmentros e universos; ao criar e acreditar em imagens que ele inventa para si prório, o público é capaz de enxergá- las e compartilhar de suas experiências sensoriais e cognitivas.

O artista Alexandre Del Perugia fala sobre a relação entre o jogo do intérprete e o jogo infantil. Sua pedagogia é altamente inspirada pelo universo criativo da criança, onde não existem regras nem limites para o ato expressivo. Apesar dos mesmos brinquedos, apesar dos mesmos textos, apesar do mesmo pátio, apesar da mesma sala de ensaio, apesar das mesmas regras impostas, crianças e artistas jogam como se fosse pela primeira vez". (em atelier no canaldanse, Paris). Para ele, "o desejo de jogar é universal". Se balançar, buscar o equilíbrio/desequilíbrio, se lançar, sautar, caminhar sobre uma mureta, jogar uma pedra no rio para ricochetear, pular sobre um colchão de molas, pular cordas... tudo isso nos invoca os "brinquedos" do circo como o trapézio, a corda bamba, as bolas do malabarista, o trampolim

Se a criança se comporta como um poeta, o poeta age como uma criança que brinca. O intérprete-poeta transfigura a realidade. Ele dá novos sentidos e valores aquilo que parece ser imutável.  Jogar é ver o mundo de outra maneira, é ver no mundo o que não é visível: ver o que existe além do ordinário, inventar um algo a mais ali onde se vê desesperadamente a mesma coisa.

(1) utilizamos a noção de jogador aproximando sua signifição ao termo francês "joueur", ou seja, englobando a idéia de brincar.

Comentários

Postagens mais visitadas