As Ondas na Maré



Dou aulas para jovens em formação na Escola livre de Dança da Maré situada no maior complexo de favelas mundo, a Maré. O Núcleo 2, nome dado ao grupo em formação, é um projeto da Lia Rodrigues Cia de Dança em parceria com a a ONG Redes. O projeto tem patrocínio da Petrobras e este ano ganhou o Fada, fundo de apoio a dança da Prefeitura do Rio de Janeiro.

O curso que dou para o Núcleo 2 é chamado Jogos Cênicos. As aulas, basicamente, se dividem em duas etapas: a primeira, que chamo de treinamento físico-vocal e a segunda, composta de mostra e debate de cenas preparadas pelos alunos a partir de um tema específico.

No treinamento, utilizamos exercícios de respiração, movimento, voz (falada e cantada), ritmo, espaço e tempo. Proponho diversos jogos de improvisação onde pesquisamos estados corporais a partir de ações físicas e atos de fala.

Para a segunda etapa, preparamos um dispositivo cênico e os alunos mostram suas criações.  As cenas variam entre solos, duos, trios e trabalhos de grupos.

Nos meses de julho e agosto de 2012 trabalhamos sobre The Waves, o livro mágico de Virginia Wolf que me foi apresentado por Diane Broman. Foi um maneira de introduzir as pesquisas do Laboratório do intérprete-autor ao Núcleo 2.

O movimento, a força, a atmosfera The waves se adaptou muito bem na Maré. Os meninos conseguiram captar a ideia de deslocamento de sentido proposto pela autora e criaram cenas que colocam em dissonância, o movimento, a voz, a música e o texto.

Uma Mostra Cênica reuniu os trabalhos criados a partir do livro, sendo apresentada no Centro de Artes da Maré no dia 14 de outubro de 2012.

Aqui em baixo, o depoimento de Luis Fernando coordenador do projeto Mobilizacão da Redes e Silvia Soter, coordenadora do Centro de artes e crítica de dança do jornal O Globo.


Fiquei bem feliz em ver a apresentação do Grupo de Dança do Núcleo 2, nessa 3ª. Feira, dia 14.10!!!

E adorei a ideia de apresentação dos trabalhos NO MEIO DO PROCESSO de formação continuada em dança.  Acho mesmo que o ensino e a aprendizagem interagem melhor assim, quando se permitem ter visibilidade, mesmo que a apresentação não seja a “culminância do ano” ou o “espetáculo final” que confirma o bom êxito da iniciativa.

Todos nós sabemos que a (nossa) vida é assim: mal aprendemos e já queremos colocar em prática.  Ás vezes nos arrependemos, mas no próximo aprendizado corremos felizes/apreensivos para mostrar o novo saber adquirido e ver se a vida (os outros) compartilha(m) conosco da mesma satisfação.

Vi na apresentação uma frase não dita, mas palpável: “eu acredito em mim, tenho fé, me delicio aqui”.  O prazer em terem um corpo, de viverem com ele, nele, era patente.

Sabem do que mais: num momento do espetáculo vi o Dódi sentado, boquiaberto, com a mão espalmada num gesto congelado.  Ele era a prova do bom resultado da apresentação.

Luiz Fernando



Muito legal mesmo. Fiquei também feliz, sobretudo de ver que referências de arte que eles tem. Não me parece nada estereotipado. Sinto que eles tem uma ideia arejada da cena, onde cabem palavras, gestos, dança/passos, som e algo mais teatral. Isso me deixou muito feliz. Mostra que as marcas que a escola está deixando neles é uma marca bacana

Silvia Soter



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