Esta Criança



Esta Criança estrutura-se em 10 cenas curtas e apresenta como tema único, ao mesmo tempo fragmentado em diferentes aspectos de abordagem, a relação entre pais e filhos. Constrangedoras, engraçadas, tristes, estranhas, as situações de morte, nascimento, adoção, abandono, agressão, desabafo, ilustram pontos cruciais e eternos na vida dos personagens sem nome, reconhecidos apenas pelas relações de parentesco que se tornam aparentes no desenvolvimento dos diálogos. Ao escrever sobre Esta Criança para o projeto de captação de recursos para montagem, a jornalista e escritora Bia Corrêa do Lago observa que “Em cada cena, mães, pais e filhos vivem seus dramas em torno desta fonte milenar de felicidade e infelicidade: a família. As ações se passam com a desconfortável naturalidade dos acontecimentos cotidianos”. Renata Sorrah destaca o caráter universal do texto: “Reconheço aquelas mães, aqueles pais, as relações são tão reconhecíveis! Esta Criança aponta problemas que as pessoas não resolvem porque se preocupam com outras coisas, porque não enxergam que estes mesmos problemas são a própria vida”.
Marcio Abreu compreende a escritura de Joël Pommerat indissociável da própria comunicação cênica, quando reflete que “forma e conteúdo se misturam para criar um material estético que estimula a imaginação e a sensibilidade. Esta Criança é uma obra essencial, contemporânea. Propõe ao encenador e aos atores uma linguagem precisa e ao mesmo tempo aberta à criação”. Neste sentido, o trabalho da Companhia Brasileira de Teatro aproxima-se da proposta do autor francês, quando este conduz o ator à escuta dentro si mesmo com o objetivo de permitir brotar, neste lugar, a ação real e exata movida pelo conflito. Esse trabalho de extrema concentração encontra seu duplo quando consegue unir atores e público numa mesma vivência, quando agrega à cena a subjetividade e a presença do espectador, já que “o ator no seu momento presente está envolto pelo olhar do outro, o público”, segundo o próprio Pommerat. E é justamente essa “relação com o real” que pode colocar o outro (o público) em um estado propício para revelar-se uma realidade que, talvez, até então, desconhecesse. Para Marcio, Esta Criança é uma montagem desafiadora porque exige ser contemplada em amplitude e profundidade, mas com olhar atento à manutenção da simplicidade.  


Direção Geral: Marcio Abreu
Com: Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha
Direção de Movimento: Marcia Rubin/ coreógrafa assistente Carol Pedalino
  

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